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Luíza Erundina recebe título de Doutora Honoris Causa pela UFPB

publicado: 28/07/2025 18h51, última modificação: 28/07/2025 18h51
Para a reitora Terezinha Domiciano, a honraria serviu como uma “reparação histórica”

Luíza Erundina recebe título de Doutora Honoris Causa pela UFPB

Neste mês de julho, duas paraibanas receberam o último de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em reconhecimento à luta em defesa da justiça social. Após a concessão da honraria para Elizabeth Teixeira, foi a vez de Luíza Erundina de Sousa, assistente social formada pela UFPB, ser homenageada pela instituição, em solenidade realizada na última sexta-feira (25), no auditório da Reitoria.

A proposta de concessão da honraria não é recente. O pedido foi realizado em 2019, mas somente na atual gestão da reitoria da UFPB o processo foi retomado e aprovado – por unanimidade. A ideia veio dos professores Marcelo Sitcovsky e da professora – e deputada estadual - Cida Ramos.

Enquanto aguardava pelo início do evento, na sala ao lado, a deputada federal Erundina conversava com docentes da UFPB e quis saber sobre as pessoas que estampavam os quadros emoldurados na parede – a galeria de ex-reitores. Posou para fotos, ouviu de forma gentil e atenciosa aos que a ela se dirigiam e responde à jornalista que aqui escreve sobre o que sentia ao voltar à universidade onde foi impedida de seguir a carreira de docente.

“Há vários dias que estou muito comovida, porque é uma emoção forte. Você resgata uma vida de 54 anos, que foi quando eu tive que sair da Paraíba, por motivos políticos e inclusive rejeitada pela universidade, vetada pelos militares”, compartilhou Erundina.

Quando entrou no auditório lotado, sua presença parecia magnética diante do público, formado por docentes, alunos, representantes de movimentos sociais e pessoas públicas como o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e o deputado federal Luiz Couto (este compondo a mesa do evento). Foi recebida pelo Coral Voz Ativa, que entoava, junto com o público, a canção que ela escolheu de forma cirúrgica.

Lançada em plena ditadura militar, “Disparada” remete a um despertar de consciência. E foi precisamente uma tomada de consciência, diante da desigualdade social e do ciclo de pobreza que se repetia no interior da Paraíba, que levou Erundina para a militância, para a defesa da reforma agrária. Tentou no próprio destino mandar, mas como na canção de Chico Buarque “eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá”. E lá foi ela, para São Paulo, para fugir da perseguição dos militares.

Sentada na primeira fileira do auditório estava Muna Zeyn, assessora de Erundina há 40 anos, desde o primeiro mandato, como vereadora. Muna não disfarçava a satisfação ao ver a deputada receber, das mãos da reitora Terezinha Domiciano, o diploma de Honoris Causa. O mesmo diploma que Erundina também recebeu em abril deste ano, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Para a gestora da UFPB, que encerrou a cerimônia com sua fala, a concessão da honraria é uma reparação histórica a uma mulher que teve a trajetória de professora encerrada de forma abrupta, e que, no campo da política se consolidou como uma liderança verdadeiramente comprometida com os cidadãos, alguém que “não à toa, escolheu o curso de Serviço Social, e também escolher ser professora”, disse a reitora.

Ao chegar à tribuna para seu discurso, a homenageada disparou, ironicamente: “Tribuna é alta porque mulher é baixa e não tem acesso à voz”. Mal começa a falar e ela, pequena na altura, logo fica grande, numa relação longa e simbiótica com a tribuna. Em sua fala, citou Elizabeth Teixeira que, assim como ela, foi militante em defesa do direito dos trabalhadores à terra – as duas se encontraram no último sábado, em uma visita de Erundina à ex-líder das Ligas Camponesas.

Para a deputada federal, aquela cerimônia se revestia de “profundo significado e forte simbolismo”. Natural de Uiraúna, lembrou, em seu discurso, a infância e as adversidades diante das secas no sertão da Paraíba. Inevitavelmente, falou da perseguição que sofreu durante a ditadura – assim como Elizabeth Teixeira – e que é uma das razões para receber o título de Doutora Honoris Causa. Até hoje, guarda com ela o ofício que comprova o veto dos militares à sua carreira na UFPB, no início dos anos 1970.

Erundina lembrou de outros que também foram impedidos de estudar e trabalhar na UFPB, por causa da ditadura, e dedicou a homenagem recebida aos trabalhadores rurais, urbanos, aos mártires das Ligas Camponesas, aos que lutam por moradia.

Acesse a galeria de imagens da cerimônia.

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Texto: Milena Dantas
Fotos da Cerimônia: Angélica Gouveia