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UFPB conquista patente de estimulador visual para recém-nascidos prematuros
O ano era 2017 e a então estudante de Engenharia Mecânica Mariana Soares de Oliveira cursava a disciplina de Engenharia de Produto na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Para a atividade acadêmica, ela enxergou a oportunidade de desenvolvimento de um produto para auxiliar profissionais da área hospitalar. Aí nasceu a ideia – que se tornou o objeto de estudo de sua monografia – de um invento voltado a recém-nascidos prematuros que estão sob cuidados especiais. O intuito era projetar e testar um dispositivo semiautomatizado que facilitasse o processo terapêutico de estimulação visual desses bebês, uma etapa crucial no desenvolvimento desses pacientes.
Essa estimulação ocorre enquanto o recém-nascido está deitado dentro da incubadora. Um terapeuta ocupacional movimenta uma imagem com desenhos e cores contrastantes dentro do campo de visão do bebê, de forma a atrair o foco para a imagem em movimento e, assim, estimular a visão. Depois, essa imagem é retirada e uma nova imagem é inserida no campo de visão do paciente.
Para criar o produto, a egressa da UFPB tinha um desafio pela frente: encontrar uma forma de acoplar na incubadora o equipamento responsável pelo processo terapêutico e de fazê-lo atuar sem causar ruídos que pudessem gerar estresse para o bebê. Foi aí que aconteceu o “pulo do gato”. Sem trocadilhos, Mariana contou mesmo com um valioso “insight”, proporcionado não exatamente pelo gato de estimação, mas por um mimo que ela comprou para o bichano.
“Eu comprei uma cama suspensa para o meu gato e vi que tinha uma ventosa muito grande, que depois descobri que também é usada para desamassar carro, então ela era forte o suficiente para segurar o dispositivo na incubadora em cima e dos lados, se fosse necessário”, contou a inventora. Essas ventosas eram o que faltava para desenhar uma solução eficaz para o estimulador visual, que foi testado na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (UCIN) da Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa-PB.
Para o projeto do protótipo, modelado em um software 3D no Laboratório de Desenvolvimento de Produtos e Inovação (Ladepi-UFPB), ela também contou com uma ajuda importante: o time de terapeutas ocupacionais do próprio hospital. “Quando se pesquisa sobre estimulação visual, é muito comum encontrar aplicativos para celular e tablet que cumprem essa função, porém, no caso de recém-nascidos prematuros, não é recomendado que eles tenham exposição a telas devido à fotossensibilidade. Se não tivéssemos acesso a esses profissionais, provavelmente a solução não seria efetiva na resolução do problema”, enfatizou Mariana.
O objetivo era, a partir da automatização do movimento dessas imagens do dispositivo, dar mais autonomia para os terapeutas ocupacionais envolvidos nesta atividade de estimulação de recém-nascidos. “Atualmente o método de estimulação utilizado exige que o terapeuta ocupacional se dedique integralmente à atividade de estimulação visual para cada recém-nascido individualmente. Isso se torna inviável em um hospital devido ao baixo número de terapeutas ocupacionais quando comparado ao número de recém-nascidos”, acrescentou o docente Fábio Morais, um dos titulares da patente.
Professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFPB, ao qual está vinculado o Ladepi, Fábio destacou o feito da egressa Mariana Soares, que realizou o caminho completo do desenvolvimento de um produto – desde o levantamento das necessidades a serem atendidas até a montagem do protótipo –, e conseguiu reunir conhecimentos das áreas de Engenharia de Produção e de Terapia Ocupacional para criar um produto barato, que pode ser totalmente higienizável e, portanto, adequado para uma unidade de cuidados neonatais em um hospital.
Assim, os pesquisadores da UFPB criaram um dispositivo semiautomatizado para realizar o processo terapêutico de estimulação visual em recém-nascidos prematuros, com imagens acopladas a hastes que vão se alternando, por meio de um motor rotativo – com controle de velocidade –, num arranjo que remete a um relógio analógico. Isso permite que os profissionais de Terapia Ocupacional se ocupem de outras atividades, de forma simultânea.
Linha do tempo
O pedido de patente para o estimulador visual havia sido depositado em dezembro de 2018 pelos pesquisadores – além de Mariana, também são inventores Fábio Morais Borges; Denise Evelin Duarte da Silva e Lucas Matias Gomes de Araújo. O invento foi contemplado em 2019 com o Prêmio de Inovação Professor Delby Fernandes, concedido pela UFPB.
Em abril deste ano, a carta-patente foi emitida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) – órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – concedendo a propriedade intelectual aos titulares da patente na UFPB. Mariana, hoje doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP), informou que ela e os demais inventores não pretendem, no momento, explorar economicamente a invenção, que ficará protegida, durante o período de 20 anos, pela Agência de Inovação Tecnológica, a Inova-UFPB.
De acordo com a Inova-UFPB, apesar de os inventores não pretenderem criar uma startup para explorar a tecnologia, a universidade tem todo o interesse em estabelecer parcerias para transferência e licenciamento dessa tecnologia, seja para uma empresa, instituição e demais interessados, por meio da Agência. Com a transferência, a UFPB, titular do direito à patente, vai obter royalties que serão revertidos para os inventores e para a própria instituição. Informações sobre parcerias podem ser obtidas pelo e-mail inova@reitoria.ufpb.br.
Mais informações:
Prof. Fábio Morais Borges
Dep. Engenharia de Produção/UFPB
fabiomoraisb@ct.ufpb.br
* Informações atualizadas em 16/04/2025, às 14h50
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Texto: Milena Dantas
Foto: Angélica Gouveia e arquivo pessoal da pesquisadora
Ascom/UFPB